Coletivo Ana Montenegro

quinta-feira, 19 de julho de 2012




        
COLETIVO DE MULHERES ANA MONTENEGRO
                                             
         O discurso religioso mascarando o Racismo e o Machismo

           “Homem de Deus quanto à idade e à raça”, com esse título, o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, dirige-se a seus seguidores com orientações sobre quais procedimentos devem ser adotados para o casamento.

            Em diversas ocasiões o líder da Universal trouxe a público suas ideias machistas, homofóbicas e racistas e, no texto divulgado no dia 13/07/2012 através do portal “Arca Universal”, não foi diferente. Em meio a afirmações marcadas por preconceitos, o pastor consegue transitar pelo machismo e pelo racismo, sem pudores, tendo como fundamento apenas suas opiniões pessoais e, em nenhum momento, amparando -se em trechos da Bíblia (o livro que alicerça a conduta dos cristãos, dos seguidores da religião protestante).

         O “bispo” orienta seus fieis sobre como escolher a companheira e, logo nos dois primeiros parágrafos Edir Macedo reproduz um antigo preceito, extremamente machista, que alega que a mulher deve ser submissa ao homem: “O rapaz que deseja fazer a Obra de Deus não deve se casar com uma moça que tenha idade superior à dele, salvo algumas exceções, como por exemplo, aquele que é suficientemente maduro e experiente na vida para não se deixar influenciar por ela.” E complementa sua proposição arcaica argumentando que “(...) temos visto que quando a mulher tem idade superior à do seu marido, ela, que por natureza já tem o instinto de ser 'mandona", acaba por se colocar no lugar da mãe do marido.”. A relação amorosa, longe de ser  uma convivência ou partilha, tem para ele o caráter de dominação exercida pelo homem sobre a mulher. E, sendo assim, a mulher mais velha poderia inverter essa lógica, exercendo a dominação sobre o marido, com o agravante de que ela “por natureza já tem o instinto de ser “mandona””, como se vivêssemos em uma sociedade matriarcal na qual os homens fossem constantemente oprimidos pelas mulheres. Por outro lado, também demarca a questão geracional em absoluto desfavor em relação à mulher. Essa é a forma de sociedade que Edir Macedo sonha ver estruturada.  

 Em determinado trecho do artigo supra citado ele salienta que “(...) A mulher normalmente envelhece mais cedo que o homem, e quando ela chega à meia-idade, o marido, por sua vez, está maduro mas não tão envelhecido quanto ela. E a experiência tem mostrado que é muito mais difícil, mas não impossível, manter a fidelidade conjugal.” . Percebemos, através da leitura, que a infidelidade conjugal, considerada como um pecado para os cristãos, respalda-se na figura da mulher que, envelhecida, tendo perdido a beleza da juventude, não seria mais capaz de atrair as atenções de seu parceiro. O bispo com sua tese, reforça o preconceito, do ponto de vista geracional  desqualifica os idosos, não todos, mas as mulheres. E, não contente com isso, ainda, digamos, justifica infidelidade, se a companheira tiver já certa idade. Mulher não é sujeito de suas ações, de suas escolhas, essa é a tônica das orientações aos seguidores da Universal. Uma face da opressão às mulheres, praticada pelo séquito de Edir Macedo.

         Além do absurdo dessas constatações, temos ainda uma postura criminosa no que se refere ao quesito “raça”. Para Edir Macedo, “Não haveria nenhum problema para o homem de Deus se casar com uma mulher de raça diferente da dele, não fossem os problemas da discriminação que seus filhos poderão enfrentar nas sociedades racistas deste mundo louco.”. Ora, a face mais absurda do racismo se mascara nessa afirmação, uma vez que as pessoas de diferentes origens étnicas não poderiam manter um laço afetivo, uma relação amorosa, por temor as agressões que poderiam sofrer ao firmarem esse compromisso ou porque seus filhos seriam estigmatizados, ou seja,  sofrerem discriminação racial. Se “as sociedades racistas deste mundo louco” se perpetuam, a Igreja Universal do Reino de Deus tem sua parcela de responsabilidade nesse quadro, pois prega em seus cultos a intolerância religiosa – como os ataques às religiosidades afro-brasileiras e africanas -, a agressão às pessoas de orientações sexuais diferentes das defendidas pela seita – gays, lésbicas, travestis, transexuais,- sendo que, nesse caso, o livre exercício da sexualidade é tratado como doença.  

          Amenizando sua parcela de culpa, Edir Macedo salienta que “Temos vários homens de Deus casados com mulheres de raças diferentes. Não teríamos absolutamente nada a comentar a este respeito, mas temos visto este tipo de problema acontecendo com as crianças dentro das nossas igrejas, em outros países”.Esse tipo de problema, mencionado pelo pastor é a discriminação racial,  contudo, o que, para ele é apenas um “problema”, para os movimentos civis organizados é  racismo mesmo,  uma discussão que perpassa a sociedade brasileira. O racismo deve ser combatido em todas as instâncias da sociedade e a Igreja, lugar onde muitos procuram alento, tornou-se, até onde podemos aferir – e conforme as palavras do próprio pastor - um local de reprodução de práticas racistas. A postura Eugenista do líder da Igreja Universal reflete o racismo presente na sociedade, e deve ser escancarada e combatida. A intolerância, o desrespeito, a valorização de atitudes que diminuem as mulheres, o machismo que leva à violência contra a mulher, são as mensagens levadas por Macedo e seus seguidores.

         Como feministas e revolucionárias, que lutam por um mundo justo, igualitário, em que as pessoas possam exercitar livremente suas opções, não devemos nos calar diante dessa falácia que se transveste nos discursos religiosos. Nossa tarefa é denunciar e combater nos marcos de um outro tipo de sociedade que não essa, as mazelas sociais e demonstrar que, na verdade, esse tipo de discurso visa reproduzir todas as injustiças da sociedade capitalista e burguesa,particularmente, de forma histórica contra a mulher.

COLETIVO DE MULHERES ANA MONTENEGRO, 18/07/2012